Cabreiros - Caracterização do Meio
Situada no extremo Oeste do Concelho de Braga, Cabreiros é uma freguesia acolhedora, de origem tradicionalmente agrícola, apesar da proximidade de duas grandes cidades e do desenvolvimento de inúmeras indústrias têxteis, na sua periferia.
A agricultura, que era a actividade económica predominante, tem agora menor expressão e está entregue aos mais idosos.
Existe, na freguesia, um parque industrial, em franca expansão, o que tem atraído novos investimentos e, consequentemente, mais desenvolvimento.
Tem acessos excelentes, pela estrada nacional 103 (Braga-Barcelos), situando-se junto às saídas das auto-estradas A3 e A11. Além disso, é possível chegar a Cabreiros atravessando as vias das freguesias vizinhas de Semelhe, Sequeira, Martim e Passos.
Cabreiros é uma freguesia servida pelos Transportes Urbanos de Braga, além de outros transportes, que fazem percursos entre Braga e Barcelos.
Tem cobertura total de água canalizada e possui infra-estruturas para tratamento de efluentes líquidos.
Possui Posto Médico e Farmácia.
Impressionante nesta freguesia e sua imagem de marca é o seu movimento associativo: possui uma Banda Filarmónica, já centenária e única no concelho de Braga, um Rancho Folclórico, um Grupo de Teatro – Cortina Aberta -, um Grupo Coral Paroquial, um Grupo Coral Infantil e Juvenil, um Grupo de Concertinas, um clube de futebol inscrito na Associação de Futebol de Braga – o Sporting Clube de Cabreiros, fundado em 15 de Agosto de 1932 -, e ainda mais quatro equipas de futebol não federadas.
Não deve existir em Cabreiros um agregado familiar que não tenha algum dos seus membros envolvido neste dinamismo cívico.
Além das inúmeras iniciativas que estas colectividades organizam, há ainda a salientar as solenidades do Senhor dos Passos e as grandiosas Festas de S.Miguel, patrono da freguesia.
Para que este ambiente de intervenção cívica e de participação de todos na vida social, recreativa e cultural seja uma realidade, a freguesia de Cabreiros conta com equipamentos de excelência, nomeadamente um Centro Cultural, um moderno e bem apetrechado Campo de Futebol, um polivalente Pavilhão Gimnodesportivo, que serve também a Escola EB 2,3 local, e um amplo Centro Cívico, junto à Igreja paroquial, que permite a realização de diversos eventos.
Assim, é possível afirmar com toda a propriedade que Cabreiros é singular na ocupação dos tempos livres, não só dos jovens, mas de todos os seus habitantes em geral.
Ao nível da Educação, Cabreiros conta com um Jardim-de-infância, uma Escola EB1 e uma Escola EB 2,3, que serve a população estudantil desta freguesia e das freguesias vizinhas.
É também de salientar a existência em Cabreiros de um Centro de Dia e Centro de Noite, recentemente edificado pela IPSS da A.C.R. de Cabreiros, organismo que também presta serviços de berçário e de creche.
A agricultura, que era a actividade económica predominante, tem agora menor expressão e está entregue aos mais idosos.
Existe, na freguesia, um parque industrial, em franca expansão, o que tem atraído novos investimentos e, consequentemente, mais desenvolvimento.
Tem acessos excelentes, pela estrada nacional 103 (Braga-Barcelos), situando-se junto às saídas das auto-estradas A3 e A11. Além disso, é possível chegar a Cabreiros atravessando as vias das freguesias vizinhas de Semelhe, Sequeira, Martim e Passos.
Cabreiros é uma freguesia servida pelos Transportes Urbanos de Braga, além de outros transportes, que fazem percursos entre Braga e Barcelos.
Tem cobertura total de água canalizada e possui infra-estruturas para tratamento de efluentes líquidos.
Possui Posto Médico e Farmácia.
Impressionante nesta freguesia e sua imagem de marca é o seu movimento associativo: possui uma Banda Filarmónica, já centenária e única no concelho de Braga, um Rancho Folclórico, um Grupo de Teatro – Cortina Aberta -, um Grupo Coral Paroquial, um Grupo Coral Infantil e Juvenil, um Grupo de Concertinas, um clube de futebol inscrito na Associação de Futebol de Braga – o Sporting Clube de Cabreiros, fundado em 15 de Agosto de 1932 -, e ainda mais quatro equipas de futebol não federadas.
Não deve existir em Cabreiros um agregado familiar que não tenha algum dos seus membros envolvido neste dinamismo cívico.
Além das inúmeras iniciativas que estas colectividades organizam, há ainda a salientar as solenidades do Senhor dos Passos e as grandiosas Festas de S.Miguel, patrono da freguesia.
Para que este ambiente de intervenção cívica e de participação de todos na vida social, recreativa e cultural seja uma realidade, a freguesia de Cabreiros conta com equipamentos de excelência, nomeadamente um Centro Cultural, um moderno e bem apetrechado Campo de Futebol, um polivalente Pavilhão Gimnodesportivo, que serve também a Escola EB 2,3 local, e um amplo Centro Cívico, junto à Igreja paroquial, que permite a realização de diversos eventos.
Assim, é possível afirmar com toda a propriedade que Cabreiros é singular na ocupação dos tempos livres, não só dos jovens, mas de todos os seus habitantes em geral.
Ao nível da Educação, Cabreiros conta com um Jardim-de-infância, uma Escola EB1 e uma Escola EB 2,3, que serve a população estudantil desta freguesia e das freguesias vizinhas.
É também de salientar a existência em Cabreiros de um Centro de Dia e Centro de Noite, recentemente edificado pela IPSS da A.C.R. de Cabreiros, organismo que também presta serviços de berçário e de creche.
Percurso Histórico
Esta freguesia, que dista oito quilómetros de Braga e doze de Barcelos, era povoação atravessada por uma via romana que vinha de Barcelos fazer ligação à estrada romana de Braga-Astorga.
Apesar de referida por Antonino, o percurso deste via romana é desconhecido no território português, já que a primeira Mansio referida é Aquis Celenis, a CLXV (165) milhas de Braga, ou seja, já na Galiza. Este itinerário é uma variante da Via XIX Braga-Lugo, cujo nome, per loca maritima, sugere uma rota perto do mar, pelo litoral ou mesmo por via fluvial, descendo o Rio Cávado, desde Areias de Vilar até à sua foz em Fão, e depois por mar ao longo da costa até à Galiza. Sairia de Braga, pela actual Rua Padre Cruz, passaria por Ferreiros, Cabreiros, Martim, Encourados e Areias de Vilar.
Depois aconteceria a travessia do rio Cávado.
Em Cabreiros, cortava os lugares de Porto de Martim e Sacota, onde, ainda hoje, se encontram vestígios, servindo mais tarde de leito ao regato que desagua no rio Lavriorte – hoje Labriosque – que, banhando a freguesia de Martim, vai desaguar no rio Cávado, na freguesia da Pousa.
A ocupação humana desta terra que se estende em anfiteatro até ao vale de Passos deve ser antiquíssima, a julgar pela existência de uma Civitas ou Castro, em Bastuço.
Por estar situada no sopé do Monte das Caldas (águas cálidas = quentes), Castro romano com Caldas, facilmente se conclui que os seus primeiros habitantes foram romanos castrenses.
O 1.º documento a falar desta freguesia, então com o nome de S. Miguel de Torgolosa, data do ano de 1079.
Nesse documento, de 28 de Julho de 1079, D. Elvira Donnaniz doa, por sua morte, à Sé de Braga parte das igrejas “ de Sancti Micaheli de Torgolosa (…) et Sancto Juliano de Palatio [Passos S.Julião] …” ( A.D.B. – Liber Fidei, fl. 165 v., doc. 630).
No entanto, a doadora era pessoa com netos e as igrejas vinham-lhe dos pais, que também já as haviam herdado – “de meo patre Donam Teudilaz et de mea matre nomine Astragundia de quanta illos habuerunt de parentela”- Era frequente justificar-se o direito de posse, alegando que os bens procedem de herança dos antepassados, daí a expressão “de parentela”. Isto indica diversas gerações e, portanto, dezenas ou até centenas de anos.
Estas igrejas (“de Sancti Micaheli de Torgolosa (…) et Sancto Juliano de Palatio”) existiam no século X e, portanto, mais antiga seria a freguesia de Cabreiros (anteriormente chamada Torgolosa).
Porquê Torgolosa? Porque este vale era rico de “Torga”, planta da família da urze, muito apreciada na alimentação e saúde do gado caprino e que, por isso mesmo, atraía para aqui muitos rebanhos.
À noite, os pastores concentravam os rebanhos numa planície onde levantaram um barracão coberto e aí, durante a noite, enquanto uns ficavam de vigia aos rebanhos por causa dos lobos, os outros repousavam. A esta zona deram o nome de “Bica”, lugar que é o coração da freguesia e onde, ainda hoje, existe um vestígio dessa enorme poça (Bica), cuja água, vinda do monte de S. Gens, matava a sede aos rebanhos e enchia os potes onde os pastores cozinhavam as refeições ambulantes para todo o dia. Os mais idosos ainda lhe chamam o lugar da Poça.
Do lado Norte, o lugar da Torre, como torre de igreja, lembra o ponto mais alto onde, à noite, os pastores dependuravam os chocalhos das cabras para afugentar os lobos.
S.Miguel de Torgolosa mudou o nome para Cabreiros, por aqui estar a igreja – “basílica sita et dignose fundata est in villa Kbrarius” (Gav. 2ª das Igrejas, doc.152, de 1116).
O topónimo Kbrarius (evolução, por via popular, do étimo latino capra, em português, cabra) estará certamente relacionado com a pastorícia, onde predominava o gado caprino.
Mas, em 1124, ainda mantinha o antigo nome – “ecclesia de Sancto Michaele de Torganosa” (L. Fidei, doc. 745).
Em 1212, aparece como “ecclesia Sancti Michaeli de Caprarios” (Gav. 1º das Igrejas, doc.142).
Em 1214, surge com o nome de “Sancti Michaelis de Cabreiros” (L. Fidei, doc. 499).
Em 1230, fala-se de “ freeguesia Sancti Micahelis de Caprariis” ( Gav. Rendas da Mitra, doc.77).
Em 1290, surge associado o nome de Santa Leucádia, hoje pertencente à freguesia vizinha de Semelhe – “In parrochiis Sancti Michaelis et Sancte Leocadie de Cabreiros”, Julgado de Penafiel de Bastuço.
Em 1528, surge o nome mais aproximado do actual – “S. Migell de Cabreiros (Quabreiros) [anexa] ao Quabido de Bragua”, T. de Penafiel.
Pertenceu ao concelho de Barcelos até ao dia 24 de Outubro de 1853, data em que, por decreto, ficou a pertencer ao Concelho de Braga.
Apesar de referida por Antonino, o percurso deste via romana é desconhecido no território português, já que a primeira Mansio referida é Aquis Celenis, a CLXV (165) milhas de Braga, ou seja, já na Galiza. Este itinerário é uma variante da Via XIX Braga-Lugo, cujo nome, per loca maritima, sugere uma rota perto do mar, pelo litoral ou mesmo por via fluvial, descendo o Rio Cávado, desde Areias de Vilar até à sua foz em Fão, e depois por mar ao longo da costa até à Galiza. Sairia de Braga, pela actual Rua Padre Cruz, passaria por Ferreiros, Cabreiros, Martim, Encourados e Areias de Vilar.
Depois aconteceria a travessia do rio Cávado.
Em Cabreiros, cortava os lugares de Porto de Martim e Sacota, onde, ainda hoje, se encontram vestígios, servindo mais tarde de leito ao regato que desagua no rio Lavriorte – hoje Labriosque – que, banhando a freguesia de Martim, vai desaguar no rio Cávado, na freguesia da Pousa.
A ocupação humana desta terra que se estende em anfiteatro até ao vale de Passos deve ser antiquíssima, a julgar pela existência de uma Civitas ou Castro, em Bastuço.
Por estar situada no sopé do Monte das Caldas (águas cálidas = quentes), Castro romano com Caldas, facilmente se conclui que os seus primeiros habitantes foram romanos castrenses.
O 1.º documento a falar desta freguesia, então com o nome de S. Miguel de Torgolosa, data do ano de 1079.
Nesse documento, de 28 de Julho de 1079, D. Elvira Donnaniz doa, por sua morte, à Sé de Braga parte das igrejas “ de Sancti Micaheli de Torgolosa (…) et Sancto Juliano de Palatio [Passos S.Julião] …” ( A.D.B. – Liber Fidei, fl. 165 v., doc. 630).
No entanto, a doadora era pessoa com netos e as igrejas vinham-lhe dos pais, que também já as haviam herdado – “de meo patre Donam Teudilaz et de mea matre nomine Astragundia de quanta illos habuerunt de parentela”- Era frequente justificar-se o direito de posse, alegando que os bens procedem de herança dos antepassados, daí a expressão “de parentela”. Isto indica diversas gerações e, portanto, dezenas ou até centenas de anos.
Estas igrejas (“de Sancti Micaheli de Torgolosa (…) et Sancto Juliano de Palatio”) existiam no século X e, portanto, mais antiga seria a freguesia de Cabreiros (anteriormente chamada Torgolosa).
Porquê Torgolosa? Porque este vale era rico de “Torga”, planta da família da urze, muito apreciada na alimentação e saúde do gado caprino e que, por isso mesmo, atraía para aqui muitos rebanhos.
À noite, os pastores concentravam os rebanhos numa planície onde levantaram um barracão coberto e aí, durante a noite, enquanto uns ficavam de vigia aos rebanhos por causa dos lobos, os outros repousavam. A esta zona deram o nome de “Bica”, lugar que é o coração da freguesia e onde, ainda hoje, existe um vestígio dessa enorme poça (Bica), cuja água, vinda do monte de S. Gens, matava a sede aos rebanhos e enchia os potes onde os pastores cozinhavam as refeições ambulantes para todo o dia. Os mais idosos ainda lhe chamam o lugar da Poça.
Do lado Norte, o lugar da Torre, como torre de igreja, lembra o ponto mais alto onde, à noite, os pastores dependuravam os chocalhos das cabras para afugentar os lobos.
S.Miguel de Torgolosa mudou o nome para Cabreiros, por aqui estar a igreja – “basílica sita et dignose fundata est in villa Kbrarius” (Gav. 2ª das Igrejas, doc.152, de 1116).
O topónimo Kbrarius (evolução, por via popular, do étimo latino capra, em português, cabra) estará certamente relacionado com a pastorícia, onde predominava o gado caprino.
Mas, em 1124, ainda mantinha o antigo nome – “ecclesia de Sancto Michaele de Torganosa” (L. Fidei, doc. 745).
Em 1212, aparece como “ecclesia Sancti Michaeli de Caprarios” (Gav. 1º das Igrejas, doc.142).
Em 1214, surge com o nome de “Sancti Michaelis de Cabreiros” (L. Fidei, doc. 499).
Em 1230, fala-se de “ freeguesia Sancti Micahelis de Caprariis” ( Gav. Rendas da Mitra, doc.77).
Em 1290, surge associado o nome de Santa Leucádia, hoje pertencente à freguesia vizinha de Semelhe – “In parrochiis Sancti Michaelis et Sancte Leocadie de Cabreiros”, Julgado de Penafiel de Bastuço.
Em 1528, surge o nome mais aproximado do actual – “S. Migell de Cabreiros (Quabreiros) [anexa] ao Quabido de Bragua”, T. de Penafiel.
Pertenceu ao concelho de Barcelos até ao dia 24 de Outubro de 1853, data em que, por decreto, ficou a pertencer ao Concelho de Braga.
Cabreiros em poema
Monsenhor Alves da Rocha, ilustre Prelado e filho de Cabreiros, fez publicar em Agosto de 1949 o Poema Histórico e Literário “ A Minha Aldeia”, no qual, com nostalgia e manifesto afecto fala da sua terra natal.
São versos eneassílabos de uma simplicidade e beleza ímpares, organizados em quadras, ao gosto popular, com ricas imagens, suaves sinestesias e melodiosas entoações.
A propósito deste livro, vários foram os notáveis entendidos que sobre ele se manifestaram.
Eis o relato de alguns deles:
Monsenhor Alves da Rocha canta neste poema «A MINHA ALDEIA», a de Cabreiros, aninhada num debrum de terra, ao pé das montanhas que enchem os horizontes com suas atorreadas muralhas azuis. Ela nasceu nas terras em que se passou o milagre da Fundação do Reino
(...)
E cresceu entre Braga, Barcelos e Porto, com suas quintas brazonadas e vinhedos enforcados, com suas fontes e ribeiros, com seus quintalejos floridos e seus cantos de rouxinol nas noites de luar. Sob o padroado de S. Miguel, seu povo trigueiro, modesto e forte, através dos séculos tem servido a Deus e à Pátria.
(...)
Gustavo Barroso ( Da Academia Brasileira de Letras)
Em Portugal, nessa maravilhosa língua que guarda para o mundo tantos tesouros de beleza e graça, a poesia que melhor diz da alma do nosso povo é a poesia lírica, esse como respirar da alma, singelo e profundamente emotivo, é uma segunda natureza, um reflexo perfeito do seu fundo psicológico.
Monsenhor Alves da Rocha, o Prelado ilustre que tanto honra, no Brasil, a sua Pátria, é um filho desse povo, porque entre ele viu a luz do dia e porque o seu fino espírito guarda toda a sensibilidade da gente lusíada.
Deu-me Sua Reverendíssima a honra e o prazer de passar os olhos na encantadora colectânea da sua saudade, que é o sugestivo e pequeno volume de quadras, onde, sob, o título «A MINHA ALDEIA», ele invoca sentidamente, em breve inspiração, todas as recordações, que andam na sua alma, da pequenita e ridente aldeia, em que nasceu e viveu a meninice e a mocidade. É uma extensa galeria de figuras e factos, figuras queridas e factos consoladores, como que um grande quadro maravilhoso ale colorido, de vida, de impressionismo realista. Não há, nesse rosário de inspiradas quadras, nada de artificial, nada- como direi? - de literatura convencional. Tudo é simplesmente contado e cantado, sem arrebiques de forma e com um tão expressivo recorte de figuras, que temos a impressão de uma grande paisagem, duma paisagem aldeã, cheia de cor e de graça, como só é possível realizar quando se traz dentro do coração uma profunda saudade, alimentada com recordações que não morrem. De aqui o constituir a leitura deste trabalho um grande prazer espiritual. Página a página, o que nas diz das imagens, e das criaturas a que o seu coração anda preso, soa nas ouvidos da nossa alma como a música suave e festiva das águas doces dum ribeiro claro, que vai correndo descuidado, por sobre as areias douradas, dizendo as suas alegrias e segredos. Em centenas desses versos singelos e de infinita ternura, não há um grito, não há uma imprecação, não há uma nuvem de pesar profundo. Tudo é beleza e graça, por vezes, uma leve ironia e, sobretudo, esse colorido vivo, essa aleluia de luz, que caracteriza, anima, marca o ambiente aldeão da nossa formosa província minhota.
Certamente, o poeta não nos acreditaria se lhe afirmássemos, lisonjeiramente, que da sua pena saiu uma obra prima, mas, com certeza, confia na nossa sinceridade quando lhe afirmamos que o seu lindo trabalho lhe saiu bem do coração, da inteligência e de seu pendor incontestável para trabalhar com maestria o verso singelo e cantante, que tão extraordinariamente traduz o fundo inspirador da psicologia do nosso povo.
(...)
Rio de Janeiro, 1945.
António Guimarães
Publicamos, nesta página, excertos da referida obra, na medida em que eles ilustram a freguesia de Cabreiros num passado recente, imagem essa que, em grande parte, corresponde àquilo que é hoje esta aldeia. Desde referências à sua localização, às suas gentes, honradas e trabalhadoras, às suas infra-estruturas, ao encanto dos seus espaços naturais, às suas férteis quintas, à sua fervorosa fé, são pinceladas impressionistas que formam o belo painel que é Cabreiros.
Foram seleccionados apenas aquelas quadras que se referem a Cabreiros, de forma mais ou menos directa.
À família do autor, os agradecimentos sinceros pela autorização da publicação destes versos.
A Minha Aldeia
Poema Histórico e Literário
Monsenhor Alves da Rocha
1949
Excertos
CANTO I
Duma encosta nimbada de luz,
De gigantes, frondosos pinheiros,
Despontou, sob o signo da Cruz,
A Paróquia aldeã de Cabreiros.
Freguesia que sempre revela,
Entre as mais, mimoso jardim;
Tem ao sul, a de Passos, tão bela!
No Poente, a da Pousa e Martim.
Tem ao norte, a da Graça e Tibães,
No levante, Semelhe e Sequeira,
E, no centro, Cabreiros, a mais
Verdejante e florida Roseira,
As muralhas, colossos da terra,
Que contornam os seus horizontes
São as Caldas, São Gens e a Serra...
Com o Monte da Graça e outros montes.
(…)
Desde logo também lhe foi dado
Um Patrono, Fiel Padroeiro,
São Miguel- destemido Soldado
Ao serviço de Deus - o Primeiro.
(…)
Eu não creio que haja outra aldeia,
Guarnecida de tantos encantos;
Nem velada por longa cadeia
De Montanhas, Capelas e Santos!
Inda agora, do seu coração,
Viva chama de Fé irradia,
Que lhe dá a Mercê, o Brasão
De cristã e leal Freguesia.
CANTO II
(…)
Esta aldeia de extensos lugares
Aprazíveis de inverno e verão,
É formada de berços e lares,
Património dum povo cristão.
Dia e noite, percorrem-lhas veias,
Cristalinos filões de água pura,
Privilégio de algumas aldeias,
Que lhes dá preferência e ventura,
São as Fontes do Monte e da Torre,
Dos Paulinhos e doutros lugares,
Que mitigam a dor de quem morre
E renovam a vida nos lares.
Entre todas, a mais preferida,
A do Monte é que tem primazia,
Cujas águas alongam a vida
E minoram a dor na agonia.
Não tem rios, mas longos ribeiros,
Do mais doce e sutil murmurinho,
Alegria dos tristes moleiros,
Quando os sentem tanger o moinho.
Tem estradas de boa rodagem
Que aos pedestres dão folga e conforto,
Sobretudo, a do sul que é passagem
Entre Braga, Barcelos e Porto.
Férteis Quintas do tempo de antanho:
A do Costa, a do Nério, a de Eirinha;
No solar, na fartura e tamanho,
São Miguel é de todas rainha.
Muitas outras existem também,
De Brasão e velada nobreza,
Com vivendas que muitas não tem,
Fernandinho é de todas princesa.
Não se pode porém ocultar
Doutra Quinta, o Brasão e grandeza:
O Fernandes fez nela o seu lar
E tornou-a mais nobre em riqueza.
A do Costa, com ser pequenina,
É talvez na nobreza a primeira,
Mais ainda que a Quinta de Eirinha,
Que a do Nério, e a da Madureira.
Mas de todo o conjunto de bens
Que esta aldeia contem em redor,
Das alturas do Monte São Gens,
Se aquilata a pujança, o valor.
CANTO III
(…)
Desde longas e prístinas eras,
Cultivaram no solo maninho
Desta aldeia, de linhas austeras,
Toda a Flora existente no Minho.
Há pomares de altivas fruteiras:
Cerejeiras de várias cores,
Macieiras, Pereiras, Figueiras
E Camélias louçãs-tricolores.
Há devezas de espessos Carvalhos,
De Loureiros e branca Giesta,
Onde pousam e cantam nos galhos,
As rolinhas nas horas da sesta.
Há Florestas de verdes Sobreiros
Com Salgueiros em seus arredores,
Onde as aves procuram poleiros
Quando querem cantar seus amores.
No pendor e sopé das Montanhas
Há frondosos, rivais Castanheiros
Que, no tempo das fulvas castanhas,
Abastecem enormes celeiros.
Das espécies que incensam a aragem
Dum perfume suave, atraente,
Não há outros que levem vantagem
Às mimosas da selva virente.
Nos jardins também há Pessegueiros,
Madressilvas, Hidranjas, Martírios,
Herva-doce, Alecrim e canteiros
De Açucenas, de Cravos, de Lírios.
Laranjeiras que ostentam a flor
Da pureza, sem jaça, integral,
E perfumam de graça e pudor
Os sorrisos do amor conjugal.
Oliveiras, madeira da Cruz,
Arvorada no Monte Calvário,
Cujos frutos sustentam a luz
Que alumia a Jesus no Sacrário.
Dentre todas, porém, as Videiras
Nos merecem solene carinho,
Pois, sem estas zelosas obreiras,
Faltaria nas Missas, o vinho.
(…)
CANTO IV
(…)
Os seus vales, as suas campinas,
Latifúndios de imenso valor,
São painéis de viçosas boninas,
Sem rivais no perfume e na cor.
Tem ao norte, alvejantes penedos,
Vigilantes, dispersos, em pé,
Que recordam aos jovens, folguedos
Doutros tempos que havia mais Fé!
Tem manhãs refulgentes, douradas,
Dias cheios de vida e de sol,
Noites frescas, de luz prateadas,
Em que a lua é o pintor e farol!
Tem gorgeios suaves eternos,
Roseirais em botão, perfumados,
Que nos lembram os seios maternos
E o regaço em que fomos criados.
Tem casais deligentes, cristãos,
A quem nunca faltou agasalho,
Porque os filhos, os pais, os irmãos,
Todos louvam a Deus, no trabalho.
Tem artistas e tem lavradores,
Quase todos activos, honrados,
Seus trabalhos despertam louvores,
Desde há muito que estão consagrados.
Grande povo de Deus, do trabalho,
Que fizeste, com rara visão,
Da charrua, da enxada e do malho,
O mais nobre e invencível Brasão.
(…)
Duas obras te faz imortal,
Ó Cabreiros, meu berço querido:
São os Passos e a Banda, afinal,
Por que foste e serás conhecido.
Seu autor e alguns anos Regente,
Foi João Marfins de Oliveira,
Meu avô e leal confidente,
Que fundou nesta aldeia, a primeira.
CANTO V
(…)
Tem brasões de fidalgos que outrora,
Defenderam a Pátria e Deus;
Recordar esta olímpica aurora,
É cantar, é beijar os trofeus.
Sacerdotes da Paz, da Igreja,
Que este mundo bem cedo deixaram,
Gozam hoje do valor, da peleja,
As venturas que então não gozaram.
Outros há que a Divina Missão
Obrigou a mais longa demora;
Mensageiros da Paz, do perdão,
Que Deus manda a quem reza, a quem chora!
Também deram à Pátria as vidas,
Outros nomes que o tempo perdeu!
Para muitos estão esquecidas...
Mas seus frutos refulgem no Céu!
Dentre tantos, quem mais se emolou
Pela Pátria, por Deus, pela Fé,
O Morgado do Monte ficou...
Na memória de todos, em pé!
Mas dos sábios, que nunca desdizem
Da nobreza e da honra - o primeiro,
Que tivera, em Cabreiros, origem,
Foi António Maria Pinheiro.
CANTO V
(…)
É provida de todos os meios
Necessários à luta da vida;
Quem lá mora não tenha receios...
Sempre foi e será preferida.
Tem Igreja, Farmácia, Escolas,
Presbitério, Irmandade e Passal,
Onde ao pobre não faltam esmolas,
Nem ao rico, orações contra o mal.
Tem Capela, de alfaias provida
Destinadas ao Culto Sagrado;
Jubileus que reformam a vida
Dos que sentem horror ao pecado.
Tem Bandeiras, Imagens, Andores,
Em estilo ancestral e moderno,
De relevo e finos lavores,
Para uso do Culto externo.
(…)
CANTO VII
(…)
Nesta aldeia há Mês de Maria,
Hora Santa, Compasso Pascal;
Há o Triduo, que é a obra mais pia
Dentre as mais, Devoção principal.
Há Registo Civil e Meirinho,
Há Juízo de Paz e Escrivão,
Tudo quanto se usa no Minho...
Regedor, Professor, Sacristão.
Cemitério dos ricos, dos pobres.
Mausoléus de discreta beleza,
Funerais de indigentes e nobres
Que despertam pesar e tristeza.
(…)
CANTO X
Eis-me agora no termo final
Deste rude e modesto poema
Em que as Musas, por bem ou por mal,
Excluíram do seu diadema.
Não importa que assim sucedesse,
Seja embora severa a lição;
Mas, contudo, jamais esmorece
Minha justa e fiel gratidão.
Já pressinto o outono da vida
A negar-me firmeza no porte!
Virá breve talvez a descida
Ao sepulcro nos braços da morte!
Vou, portanto, aqui revelar
Todo o amor e saudade que encerra
A minha alma, da aldeia e do lar,
Que primeiro tivera na terra.
Adeus Eido e Casa do Monte,
Velha herdade de meus bisavós;
Adeus água e murmúrios da fonte,
Que saudades eu sinto de vós!
Adeus primos e velhos parentes,
Com quem tanto brinquei em criança,
Meus irmãos, meus sobrinhos ausentes,
De quem guardo a mais grata lembrança.
Outros há no Brasil que, ao meu lar,
Sempre deram gentil companhia;
A lembrança que os hei de deixar
Me congela no meu peito a alegria.
Adeus Passos que nunca mais vejo,
Adeus Banda de quem sou amigo,
Se puderes, será meu desejo,
Que me leves, na morte, ao jazigo!
Adeus sinos, adeus campanário,
Testemunhos da Fé e da Arte,
Mês de Maria e Mês do Rosário,
Adeus quanto do Culto faz parte.
Adeus Cruzes dos Passos de Cristo,
E o Cruzeiro, no Largo, alçado,
Adeus Livro do Tombo e Registro...
Adeus Pia, onde fui baptizado!
Adeus bosques, adeus passarinhos
Das devezas, gentis trovadores,
Vossos cantos, nas matas, nos ninhos,
São prelúdios de castos amores.
Finalmente, ó Cabreiros, adeus!
Não te esqueças do filho distante,
Que hoje e sempre, na terra ou nos Céus,
Te consagra amizade constante!
São versos eneassílabos de uma simplicidade e beleza ímpares, organizados em quadras, ao gosto popular, com ricas imagens, suaves sinestesias e melodiosas entoações.
A propósito deste livro, vários foram os notáveis entendidos que sobre ele se manifestaram.
Eis o relato de alguns deles:
Monsenhor Alves da Rocha canta neste poema «A MINHA ALDEIA», a de Cabreiros, aninhada num debrum de terra, ao pé das montanhas que enchem os horizontes com suas atorreadas muralhas azuis. Ela nasceu nas terras em que se passou o milagre da Fundação do Reino
(...)
E cresceu entre Braga, Barcelos e Porto, com suas quintas brazonadas e vinhedos enforcados, com suas fontes e ribeiros, com seus quintalejos floridos e seus cantos de rouxinol nas noites de luar. Sob o padroado de S. Miguel, seu povo trigueiro, modesto e forte, através dos séculos tem servido a Deus e à Pátria.
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Gustavo Barroso ( Da Academia Brasileira de Letras)
Em Portugal, nessa maravilhosa língua que guarda para o mundo tantos tesouros de beleza e graça, a poesia que melhor diz da alma do nosso povo é a poesia lírica, esse como respirar da alma, singelo e profundamente emotivo, é uma segunda natureza, um reflexo perfeito do seu fundo psicológico.
Monsenhor Alves da Rocha, o Prelado ilustre que tanto honra, no Brasil, a sua Pátria, é um filho desse povo, porque entre ele viu a luz do dia e porque o seu fino espírito guarda toda a sensibilidade da gente lusíada.
Deu-me Sua Reverendíssima a honra e o prazer de passar os olhos na encantadora colectânea da sua saudade, que é o sugestivo e pequeno volume de quadras, onde, sob, o título «A MINHA ALDEIA», ele invoca sentidamente, em breve inspiração, todas as recordações, que andam na sua alma, da pequenita e ridente aldeia, em que nasceu e viveu a meninice e a mocidade. É uma extensa galeria de figuras e factos, figuras queridas e factos consoladores, como que um grande quadro maravilhoso ale colorido, de vida, de impressionismo realista. Não há, nesse rosário de inspiradas quadras, nada de artificial, nada- como direi? - de literatura convencional. Tudo é simplesmente contado e cantado, sem arrebiques de forma e com um tão expressivo recorte de figuras, que temos a impressão de uma grande paisagem, duma paisagem aldeã, cheia de cor e de graça, como só é possível realizar quando se traz dentro do coração uma profunda saudade, alimentada com recordações que não morrem. De aqui o constituir a leitura deste trabalho um grande prazer espiritual. Página a página, o que nas diz das imagens, e das criaturas a que o seu coração anda preso, soa nas ouvidos da nossa alma como a música suave e festiva das águas doces dum ribeiro claro, que vai correndo descuidado, por sobre as areias douradas, dizendo as suas alegrias e segredos. Em centenas desses versos singelos e de infinita ternura, não há um grito, não há uma imprecação, não há uma nuvem de pesar profundo. Tudo é beleza e graça, por vezes, uma leve ironia e, sobretudo, esse colorido vivo, essa aleluia de luz, que caracteriza, anima, marca o ambiente aldeão da nossa formosa província minhota.
Certamente, o poeta não nos acreditaria se lhe afirmássemos, lisonjeiramente, que da sua pena saiu uma obra prima, mas, com certeza, confia na nossa sinceridade quando lhe afirmamos que o seu lindo trabalho lhe saiu bem do coração, da inteligência e de seu pendor incontestável para trabalhar com maestria o verso singelo e cantante, que tão extraordinariamente traduz o fundo inspirador da psicologia do nosso povo.
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Rio de Janeiro, 1945.
António Guimarães
Publicamos, nesta página, excertos da referida obra, na medida em que eles ilustram a freguesia de Cabreiros num passado recente, imagem essa que, em grande parte, corresponde àquilo que é hoje esta aldeia. Desde referências à sua localização, às suas gentes, honradas e trabalhadoras, às suas infra-estruturas, ao encanto dos seus espaços naturais, às suas férteis quintas, à sua fervorosa fé, são pinceladas impressionistas que formam o belo painel que é Cabreiros.
Foram seleccionados apenas aquelas quadras que se referem a Cabreiros, de forma mais ou menos directa.
À família do autor, os agradecimentos sinceros pela autorização da publicação destes versos.
A Minha Aldeia
Poema Histórico e Literário
Monsenhor Alves da Rocha
1949
Excertos
CANTO I
Duma encosta nimbada de luz,
De gigantes, frondosos pinheiros,
Despontou, sob o signo da Cruz,
A Paróquia aldeã de Cabreiros.
Freguesia que sempre revela,
Entre as mais, mimoso jardim;
Tem ao sul, a de Passos, tão bela!
No Poente, a da Pousa e Martim.
Tem ao norte, a da Graça e Tibães,
No levante, Semelhe e Sequeira,
E, no centro, Cabreiros, a mais
Verdejante e florida Roseira,
As muralhas, colossos da terra,
Que contornam os seus horizontes
São as Caldas, São Gens e a Serra...
Com o Monte da Graça e outros montes.
(…)
Desde logo também lhe foi dado
Um Patrono, Fiel Padroeiro,
São Miguel- destemido Soldado
Ao serviço de Deus - o Primeiro.
(…)
Eu não creio que haja outra aldeia,
Guarnecida de tantos encantos;
Nem velada por longa cadeia
De Montanhas, Capelas e Santos!
Inda agora, do seu coração,
Viva chama de Fé irradia,
Que lhe dá a Mercê, o Brasão
De cristã e leal Freguesia.
CANTO II
(…)
Esta aldeia de extensos lugares
Aprazíveis de inverno e verão,
É formada de berços e lares,
Património dum povo cristão.
Dia e noite, percorrem-lhas veias,
Cristalinos filões de água pura,
Privilégio de algumas aldeias,
Que lhes dá preferência e ventura,
São as Fontes do Monte e da Torre,
Dos Paulinhos e doutros lugares,
Que mitigam a dor de quem morre
E renovam a vida nos lares.
Entre todas, a mais preferida,
A do Monte é que tem primazia,
Cujas águas alongam a vida
E minoram a dor na agonia.
Não tem rios, mas longos ribeiros,
Do mais doce e sutil murmurinho,
Alegria dos tristes moleiros,
Quando os sentem tanger o moinho.
Tem estradas de boa rodagem
Que aos pedestres dão folga e conforto,
Sobretudo, a do sul que é passagem
Entre Braga, Barcelos e Porto.
Férteis Quintas do tempo de antanho:
A do Costa, a do Nério, a de Eirinha;
No solar, na fartura e tamanho,
São Miguel é de todas rainha.
Muitas outras existem também,
De Brasão e velada nobreza,
Com vivendas que muitas não tem,
Fernandinho é de todas princesa.
Não se pode porém ocultar
Doutra Quinta, o Brasão e grandeza:
O Fernandes fez nela o seu lar
E tornou-a mais nobre em riqueza.
A do Costa, com ser pequenina,
É talvez na nobreza a primeira,
Mais ainda que a Quinta de Eirinha,
Que a do Nério, e a da Madureira.
Mas de todo o conjunto de bens
Que esta aldeia contem em redor,
Das alturas do Monte São Gens,
Se aquilata a pujança, o valor.
CANTO III
(…)
Desde longas e prístinas eras,
Cultivaram no solo maninho
Desta aldeia, de linhas austeras,
Toda a Flora existente no Minho.
Há pomares de altivas fruteiras:
Cerejeiras de várias cores,
Macieiras, Pereiras, Figueiras
E Camélias louçãs-tricolores.
Há devezas de espessos Carvalhos,
De Loureiros e branca Giesta,
Onde pousam e cantam nos galhos,
As rolinhas nas horas da sesta.
Há Florestas de verdes Sobreiros
Com Salgueiros em seus arredores,
Onde as aves procuram poleiros
Quando querem cantar seus amores.
No pendor e sopé das Montanhas
Há frondosos, rivais Castanheiros
Que, no tempo das fulvas castanhas,
Abastecem enormes celeiros.
Das espécies que incensam a aragem
Dum perfume suave, atraente,
Não há outros que levem vantagem
Às mimosas da selva virente.
Nos jardins também há Pessegueiros,
Madressilvas, Hidranjas, Martírios,
Herva-doce, Alecrim e canteiros
De Açucenas, de Cravos, de Lírios.
Laranjeiras que ostentam a flor
Da pureza, sem jaça, integral,
E perfumam de graça e pudor
Os sorrisos do amor conjugal.
Oliveiras, madeira da Cruz,
Arvorada no Monte Calvário,
Cujos frutos sustentam a luz
Que alumia a Jesus no Sacrário.
Dentre todas, porém, as Videiras
Nos merecem solene carinho,
Pois, sem estas zelosas obreiras,
Faltaria nas Missas, o vinho.
(…)
CANTO IV
(…)
Os seus vales, as suas campinas,
Latifúndios de imenso valor,
São painéis de viçosas boninas,
Sem rivais no perfume e na cor.
Tem ao norte, alvejantes penedos,
Vigilantes, dispersos, em pé,
Que recordam aos jovens, folguedos
Doutros tempos que havia mais Fé!
Tem manhãs refulgentes, douradas,
Dias cheios de vida e de sol,
Noites frescas, de luz prateadas,
Em que a lua é o pintor e farol!
Tem gorgeios suaves eternos,
Roseirais em botão, perfumados,
Que nos lembram os seios maternos
E o regaço em que fomos criados.
Tem casais deligentes, cristãos,
A quem nunca faltou agasalho,
Porque os filhos, os pais, os irmãos,
Todos louvam a Deus, no trabalho.
Tem artistas e tem lavradores,
Quase todos activos, honrados,
Seus trabalhos despertam louvores,
Desde há muito que estão consagrados.
Grande povo de Deus, do trabalho,
Que fizeste, com rara visão,
Da charrua, da enxada e do malho,
O mais nobre e invencível Brasão.
(…)
Duas obras te faz imortal,
Ó Cabreiros, meu berço querido:
São os Passos e a Banda, afinal,
Por que foste e serás conhecido.
Seu autor e alguns anos Regente,
Foi João Marfins de Oliveira,
Meu avô e leal confidente,
Que fundou nesta aldeia, a primeira.
CANTO V
(…)
Tem brasões de fidalgos que outrora,
Defenderam a Pátria e Deus;
Recordar esta olímpica aurora,
É cantar, é beijar os trofeus.
Sacerdotes da Paz, da Igreja,
Que este mundo bem cedo deixaram,
Gozam hoje do valor, da peleja,
As venturas que então não gozaram.
Outros há que a Divina Missão
Obrigou a mais longa demora;
Mensageiros da Paz, do perdão,
Que Deus manda a quem reza, a quem chora!
Também deram à Pátria as vidas,
Outros nomes que o tempo perdeu!
Para muitos estão esquecidas...
Mas seus frutos refulgem no Céu!
Dentre tantos, quem mais se emolou
Pela Pátria, por Deus, pela Fé,
O Morgado do Monte ficou...
Na memória de todos, em pé!
Mas dos sábios, que nunca desdizem
Da nobreza e da honra - o primeiro,
Que tivera, em Cabreiros, origem,
Foi António Maria Pinheiro.
CANTO V
(…)
É provida de todos os meios
Necessários à luta da vida;
Quem lá mora não tenha receios...
Sempre foi e será preferida.
Tem Igreja, Farmácia, Escolas,
Presbitério, Irmandade e Passal,
Onde ao pobre não faltam esmolas,
Nem ao rico, orações contra o mal.
Tem Capela, de alfaias provida
Destinadas ao Culto Sagrado;
Jubileus que reformam a vida
Dos que sentem horror ao pecado.
Tem Bandeiras, Imagens, Andores,
Em estilo ancestral e moderno,
De relevo e finos lavores,
Para uso do Culto externo.
(…)
CANTO VII
(…)
Nesta aldeia há Mês de Maria,
Hora Santa, Compasso Pascal;
Há o Triduo, que é a obra mais pia
Dentre as mais, Devoção principal.
Há Registo Civil e Meirinho,
Há Juízo de Paz e Escrivão,
Tudo quanto se usa no Minho...
Regedor, Professor, Sacristão.
Cemitério dos ricos, dos pobres.
Mausoléus de discreta beleza,
Funerais de indigentes e nobres
Que despertam pesar e tristeza.
(…)
CANTO X
Eis-me agora no termo final
Deste rude e modesto poema
Em que as Musas, por bem ou por mal,
Excluíram do seu diadema.
Não importa que assim sucedesse,
Seja embora severa a lição;
Mas, contudo, jamais esmorece
Minha justa e fiel gratidão.
Já pressinto o outono da vida
A negar-me firmeza no porte!
Virá breve talvez a descida
Ao sepulcro nos braços da morte!
Vou, portanto, aqui revelar
Todo o amor e saudade que encerra
A minha alma, da aldeia e do lar,
Que primeiro tivera na terra.
Adeus Eido e Casa do Monte,
Velha herdade de meus bisavós;
Adeus água e murmúrios da fonte,
Que saudades eu sinto de vós!
Adeus primos e velhos parentes,
Com quem tanto brinquei em criança,
Meus irmãos, meus sobrinhos ausentes,
De quem guardo a mais grata lembrança.
Outros há no Brasil que, ao meu lar,
Sempre deram gentil companhia;
A lembrança que os hei de deixar
Me congela no meu peito a alegria.
Adeus Passos que nunca mais vejo,
Adeus Banda de quem sou amigo,
Se puderes, será meu desejo,
Que me leves, na morte, ao jazigo!
Adeus sinos, adeus campanário,
Testemunhos da Fé e da Arte,
Mês de Maria e Mês do Rosário,
Adeus quanto do Culto faz parte.
Adeus Cruzes dos Passos de Cristo,
E o Cruzeiro, no Largo, alçado,
Adeus Livro do Tombo e Registro...
Adeus Pia, onde fui baptizado!
Adeus bosques, adeus passarinhos
Das devezas, gentis trovadores,
Vossos cantos, nas matas, nos ninhos,
São prelúdios de castos amores.
Finalmente, ó Cabreiros, adeus!
Não te esqueças do filho distante,
Que hoje e sempre, na terra ou nos Céus,
Te consagra amizade constante!